Não há muitos locais em Braga onde possamos deixar os pequenos ciclistas pedalar à vontade. As ciclovias são perigosas ou porque funcionam lado a lado com vias rápidas ou porque não têm proteções junto ao rio. Mesmo na área pedonal é impossível deixar um miúdo andar de bicicleta sem a atenção de um adulto. Há sempre veículos que surgem dos mais diversos locais. A avenida Central serve, até, para os condutores acelerarem de forma a chegarem mais rápido à saída na Senhora-a-Branca, ignorando que passam à porta duma escola (D. Pedro V). E fora da zona pedonal nem vale a pena pensar em deixar as crianças pedalarem sozinhas.
Toda a cidade é muito perigosa. Tem de ser assim? A uma hora e pouco daqui há uma cidade que acabou com a prioridade dada aos carros. O médico e Presidente da Câmara de Pontevedra Miguel Fernández pôs fim à ditadura não saudável dos automóveis. E as crianças são uma prioridade porque “cando están na rúa fan que a cidade sexa máis segura”. Em toda a cidade – e não apenas na zona histórica – a prioridade é dada aos peões. Seguem-se, por ordem, as bicicletas, os transportes públicos e os restantes veículos. Promove-se a coexistência entre vários modos e para isso há um limite de 30km/h e inúmeras medidas de acalmia de tráfego (que produziram uma redução drástica dos acidentes).
Inspirado no psicopedagogo Francesco Tonucci, o projeto “Camiños Escolares” leva ainda mais longe o objetivo: as crianças são convidadas a irem sozinhas para a escola! Como? Foram criados corredores seguros até às escolas e os pais são incentivados a não levarem as crianças de carro à porta da escola mas a deixá-las em qualquer ponto desses corredores. A pé ou de bicicleta, 25% dos alunos já aderiram!
Com tantos anos de atraso em Braga, é estranho que praticamente nada se tenha feito neste mandato camarário que tinha condições para ser inovador nas questões da mobilidade. Bastava começar por corrigir alguns dos problemas óbvios herdados da gestão anterior pro-automobilística. Já passaram 2/3 do mandato e estamos no mesmo ponto de 2013: uma enorme falta de atenção ao dia a dia da cidade e ao que se passa à volta.
(Artigo originalmente publicado na edição de 11/06/2016 do Diário do Minho)