Esta sexta-feira, dia 19 de julho, a Braga Ciclável, representada pelo médico Arnaldo Pires, participou no período do público da Assembleia Municipal para alertar para o problema da segurança de peões e ciclistas e reivindicar a necessidade urgente de implementar medidas efetivas com vista à eliminação dos atropelamentos em Braga.
O texto lido durante a intervenção foi o seguinte:
Excelentíssima Sra Presidente da Assembleia Municipal
Sr Presidente da Câmara
Srs Vereadores municipais
Srs Deputados municipais
O que me traz cá hoje são os atropelamentos no nosso concelho!
Num concelho que apresenta cerca de um atropelamento em cada 3 dias, relembramos Sebastião Alba, poeta bracarense, que morreu após ser vítima de atropelamento, em 2000, uma das muitas vítimas de atropelamentos que se conhecem no concelho.
O movimento #BragaZeroAtropelamentos tem alertado para esta problemática, destacando que muito há a fazer, para que este número se aproxime do ZERO. O movimento, criado no seio da Associação Braga Ciclável, já reuniu com as diversas forças políticas e de segurança, do concelho, no sentido de cativar os diversos agentes do poder, para que se implementem alterações na mobilidade, de forma a reduzir a nossa sinistralidade rodoviária.
Segundo a OMS, a nível da sinistralidade rodoviária, mais de metade das mortes dizem respeito a utilizadores vulneráveis. A média europeia, em 2015, era de 11 peões vítimas mortais por milhão de habitantes, e em Portugal de 14. Ou seja, estamos quase 30% acima da média europeia, num indicador onde o objetivo tem de ser Zero. Em Braga, nos últimos 20 anos, desenrolaram-se 2391 atropelamentos, e se acrescentarmos as colisões entre veículos ligeiros e utilizadores de bicicletas o número sobe para 2657 casos, de onde resultaram 55 mortos.
Em 1997, na Suécia, decidiu-se que era fundamental resolver a problemática da sinistralidade e desenvolveram o projeto Visão Zero. Com o foco na redução da mortalidade, os suecos implementaram medidas de segregação, dos intervenientes na mobilidade urbana, tendo obtido uma redução de 66% de mortes por acidentes rodoviários. Neste momento, a Suécia apresenta 2,8 mortes por cada 100.000 habitantes e Portugal 5.1.
Entretanto outros países seguiram esta visão e atingiram semelhantes benefícios, na sinistralidade.
Um aumento de 1% da velocidade automóvel aumenta o risco de acidentes fatais em 4%. Já uma redução de 5% da velocidade reduz em 30% o risco de acidentes fatais. É necessário implementar medidas de contenção da velocidade, no centro urbano. Em 2018, 70% dos Atropelamentos, em Portugal, ocorreram dentro de localidades.
A implementação de zona urbana com velocidade máxima de 30Km/h, é urgente, contudo não basta colocar sinaléticas e pintar o asfalto, é preciso introduzir nas vias de circulação automóvel obstáculos físicos que obriguem ao cumprimento do limite de velocidade.
No nosso concelho descura-se o peão e os utilizadores de bicicleta, seja pelo ruído, pela poluição, ou pela perigosidade de determinadas vias.
Sou médico e trabalho no Serviço de Urgência, Unidade de Cuidados Intermédios e VMER de Braga. Já assisti imensos atropelados. Conheço bem a realidade da cidade, no que toca a esta problemática.
É hora de:
- averiguar os “pontos negros para os utilizadores vulneráveis” e aplicar ações com vista ao seu desaparecimento;
- estimular a efetiva redução da velocidade automóvel, na malha urbana;
- proceder à correta sinalização das vias de coexistência, sobrelevar as passadeiras e a proibir o estacionamento automóvel, ou colocação de outros obstáculos, 5 metros antes e depois das mesmas;
- realizar operações permanentes de fiscalização da velocidade, nas ruas e avenidas da cidade, como sejam as avenidas que compõem a Rodovia, Avenida da Liberdade, 31 de Janeiro, Júlio Fragata, D. João II e Avenida Imaculada Conceição;
- garantir a defesa dos utilizadores vulneráveis, levando a que criem campanhas que coloquem o ónus e o foco no veículo e não na vítima; criar Zonas Escola, garantir a existência de passeios, em todas as vias públicas e a segregação de todos os intervenientes na mobilidade, nos casos em que esta é necessária.
Só com uma visão mais humanista e democrática da mobilidade, teremos garantias de promoção da mobilidade ativa e segura, o acesso a estilos de vida saudáveis e diminuição da mortalidade.
É hora desta assembleia decidir mudar a visão da mobilidade do nosso concelho, colocando a vida humana em primeiro lugar, no momento de encontrar a melhor solução para a deslocação das pessoas.
Obrigado.