O município de Braga, que alberga uma das maiores e mais jovens cidades portuguesas, encontra-se em 41º lugar no que diz respeito à implementação de medidas de promoção e proteção do uso da bicicleta no dia-a-dia. A classificação no Bike Friendly Index, que acaba de ser lançado pelo grupo de investigação BEAM, é bastante fraca face à dimensão do concelho e da cidade. E apesar de refletir na sua generalidade um panorama que é ainda muito pouco animador a nível nacional, o fraco resultado de Braga contrasta com os resultados de dezenas de municípios portugueses, incluindo Lisboa, Porto ou Esposende, que conseguiram alcançar pontuações bem mais elevadas.
O Bike Friendly Index, uma iniciativa do grupo de investigação BEAM com a colaboração da empresa Pulsar!, é descrito pelos autores como sendo o resultado de uma experiência acumulada de investigação e projecto na área da mobilidade activa. O índice foi construído tendo por base a literatura científica conhecida sobre os fatores que explicam os níveis de utilização da bicicleta, bem como o compromisso político, para avaliar o quanto os municípios portugueses estão a investir no sentido da promoção da bicicleta e da mobilidade urbana sustentável em geral.
Desta forma, o índice é composto por 5 dimensões (Declive, Ambiente construído, Infraestruturas cicláveis, Compromisso político e Utilização da bicicleta atual), que são avaliadas através de um conjunto de 12 indicadores:
- Declive do Concelho
- Declive das áreas urbanas
- Densidade
- Diversidade
- Desenho Urbano
- Infraestruturas do Concelho
- Infraestruturas das Áreas Urbanas
- Despesa por Área Urbana
- Despesa per capita
- Peso da bicicleta na repartição modal concelhia
- Peso das mulheres na quota de utilizadores de bicicleta
- Peso dos modos ativos e transportes públicos na repartição modal concelhia
Este excelente trabalho, executado pelo Prof. Doutor David S. Vale e pelo Arq. António Pedro Figueiredo, pode ser consultado no site do Bike Friendly Index, onde como não poderia deixar de ser, a metodologia é também explicada.
Percorrendo o relatório, observa-se que o Município de Braga aparece num desolador 41º lugar no ranking global do Bike Friendly Index, que mede a “amigabilidade de um concelho para a utilização da bicicleta enquanto modo de transporte urbano” em Portugal Continental. O Município de Braga alcança apenas 3,2 pontos de 10 possíveis num ranking que é liderado pela Murtosa (6,08 pontos), sendo que Lisboa (5,84 pontos) e Vila Real de Santo António (4,92 pontos) completam o pódio.
No Norte do país, os concelhos do Porto, Matosinhos, Valongo, Maia, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Esposende e Peso da Régua receberam mais pontuação que a cidade de Braga. No Minho Braga é o segundo município com maior pontuação, atrás de Esposende (3,45), seguindo-se Vila Nova de Famalicão (2,67), Vizela (2,37), Guimarães (2,31), Viana do Castelo (2,29), Vila Verde (2,19), Ponte da Barca (2,17), Valença (2,12), Barcelos (2,05), Celorico de Basto (2,02) e Vila Nova de Cerveira (2,00). Todos os restantes concelhos do Minho receberam uma pontuação inferior a 2, numa escala de 0 a 10.
A classificação de muitos destes municípios deverá ser consideravelmente diferente no próximo ano, uma vez que, por exemplo, em Vila Verde há infraestrutura em finalização – ainda que com alguns problemas técnicos. Em Barcelos, foi anunciada recentemente uma primeira rede ciclável urbana, que servirá o centro da cidade e as escolas, ligando o ensino superior ao centro e à estação, bem como as escolas a áreas residenciais. Estas duas intervenções pretendem cativar mais cidadãos para o uso da bicicleta e, ao mesmo tempo, mostram a existência de um compromisso político. Ou seja, pelo menos nestes municípios a pontuação deverá aumentar, podendo mesmo facilmente ultrapassar Braga.
Entretanto, em Braga continuamos à espera dos 22 km de rede ciclável que foram anunciados em janeiro de 2018 pelo Vereador Miguel Bandeira nos jornais locais e que iria começar a ser discutido publicamente em 2019. Essa intervenção, segundo o mesmo vereador, contemplava a Rodovia, a Avenida 31 de Janeiro, a Avenida da Liberdade e a Ciclovia de Lamaçães. De lembrar, a este propósito, que esse projeto foi aprovado em dezembro de 2017 pelo executivo municipal, e que segundo a informação técnica levada a essa reunião, terá um custo de 11 440 613,07 euros suportado por fundos comunitários no âmbito do PAMUS. A mesma informação dizia que “após aprovação poderá submeter-se à abertura de concurso público internacional, para a respectiva execução“.
Apesar da suposta iminência deste investimento, nunca é demais esquecer que a bicicleta gera para a sociedade um benefício de 0,18€ por cada km percorrido a pedalar, ao passo que o uso do carro traz um custo de 0,11€ por km percorrido. Além disso, o custo do carro para cada indivíduo é de cerca de 0,89€ por km percorrido.[1]
Continuaremos a trabalhar para que a cidade de Braga seja mais amiga dos peões e das pessoas que utilizam a bicicleta, esperando que o Município de Braga anuncie, para muito em breve, a execução do projeto dos 22 km da rede ciclável (ou até mesmo dos 76 km prometidos), por forma a que em 2019 ou em 2020 a cidade de Braga possa vir a disputar um lugar na liderança do Bike Friendly Index.
[1]Gössling, S., Choi, A., Dekker, K., & Metzler, D. (2019). The social cost of automobility, cycling and walking in the European Union. Ecological Economics, 158, 65-74.