Em abril de 2016, Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga, afirmava numa conferência em Vila Nova de Gaia que um dos objetivos do seu executivo era priorizar os modos ativos de deslocação. Como principais metas, propunha até 2025 alcançar em Braga 10% de deslocações em bicicleta, duplicar o número de passageiros transportados pelos TUB e reduzir em 25% a utilização do automóvel. Para tal, seria implementada na cidade uma rede ciclável com 76 km, conforme o previsto no PDM, que abrangeria mais de 50% da população. Com essa infraestrutura, em qualquer ponto da cidade, estaríamos a menos de 2 minutos de alguma via ciclável.
Com o acima exposto, muitos bracarenses acreditaram estar finalmente bem encaminhada a estratégia municipal em termos de mobilidade, com metas muito positivas definidas para um médio prazo. Passados 8 anos, a apenas cinco meses do ano 2025 e com mais de uma década decorrida desde as eleições que confiaram a Ricardo Rio a presidência do Município, é importante avaliar em que ponto estamos, o que mudou, o que falta mudar, o que correu bem, e o que falhou.
Alguns projetos avançaram, outros ficaram pelo papel, ou pelos sonhos de quantos que neles acreditaram. Pelo meio, tivemos uma pandemia que obrigou a um confinamento temporário e a alterações nos padrões de deslocação. Durante esse período e nos anos que se seguiram, muitos automóveis ficaram em casa, substituídos por viagens a pé e de bicicleta ou trotinete. Muitas pessoas mantiveram esses novos hábitos, mas até de olhos fechados, de dia ou de noite, conseguimos perceber que o ruído da cidade continua intenso e ameaçador como antes, com demasiados carros na estrada, e demasiados carros a velocidades incompatíveis com a mobilidade suave que tanto se pretende promover.
Dos 76 km de vias adequadas para o uso da bicicleta, que não seriam suficientes mas que representariam um enorme progresso, temos apenas uma pequena parte. A maioria da cidade, em particular zonas habitacionais, escolares, laborais e serviços, continua sem infraestruturas adequadas aos utilizadores de bicicleta, tornando assim o acesso desconfortável e perigoso.
As ciclovias atualmente existentes, que são evidentemente uma mais-valia, continuam a ter alguns defeitos que deveriam ter sido evitados ou corrigidos. Por exemplo, a falta de interligação entre elas, para criar o desejado efeito de rede. Ou a não linearidade dos percursos, que são muitas vezes desvantajosos face às mesmas deslocações feitas noutros modos de transporte. Ou o posicionamento das mesmas nos passeios, que leva a que os peões instintivamente ocupem a ciclovia sem se aperceberem que estão a perturbar o trânsito numa faixa de rodagem. Ou a largura insuficiente, que impede a ultrapassagem de um ciclista ou outro, ou a normal circulação de velocípedes com atrelado. Ou ainda a utilização de materiais inadequados, lancis elevados, arestas afiadas, ou bancos de jardim e cestos do lixo encostados à própria faixa de rodagem da ciclovia.
Os estacionamentos para bicicletas continuam a faltar um pouco por toda a cidade, e muitos dos existentes passaram a estar quase permanentemente ocupados com trotinetes de aluguer, que nem sequer precisam dos bicicletários Sheffield para prender com o cadeado, ficando assim indisponíveis para quem usa a bicicleta.
Finalmente, e já numa ótica de mais longo prazo, continua a faltar um plano de ligação do centro da cidade às suas áreas habitacionais e empresariais periféricas, e aos concelhos vizinhos.
Estamos muito longe de alcançar o nível de segurança necessário e as metas a que nos propusemos, mas se outras cidades conseguiram fazê-lo em poucos anos, também Braga pode conseguir. Para tal, basta ter uma visão, uma estratégia, investir continuamente nessa direção os meios necessários, avaliar a cada passo de forma objetiva o que foi feito, o impacto alcançado e o que falta fazer, e não perder o foco.
Boas pedaladas!