Quando falo de mobilidade com alguém que não conhece Braga, acabo sempre por repetir que “em Braga, temos uma rua onde passam carros, bicicletas e autocarros nos dois sentidos – e numa única faixa!”.
Quem já fez o trajeto Universidade do Minho – Centro Histórico a pé ou de bicicleta sabe que me refiro à Rua D. Pedro V. Esta rua histórica do centro de Braga sofre de um mal comum a toda a cidade: o automóvel é rei.
Nos 400 metros de comprimento desta rua é possível contar mais de 30 negócios locais. Inevitavelmente, questiono-me: o que faz o trânsito automóvel por este comércio? Imagino que pouco, ou nada: as poucas dezenas de lugares de estacionamento presentes não são suficientes para suportar o transporte de mais de 2 clientes por loja.
Naturalmente, quem precisa de fazer as suas compras é levado a uma conclusão simples: existem grandes superfícies comerciais, com parques de estacionamento enormes e acessos fáceis; por que haveriam de usar o comércio local? Não os culpo: o esforço para fazer compras localmente, de forma a sustentar este tipo de pequeno comércio, torna-se brutal mal se considera o trânsito infernal de final do dia, e a dificuldade em estacionar na zona central da cidade.
A solução, a meu ver, é simples. Considerando o exemplo da Rua D. Pedro V, é fácil perceber como o seu estacionamento não sustém a necessidade das lojas; imagine-se portanto que esta área mal aproveitada dá lugar a uma alternativa melhor: transportes públicos e mobilidade suave. A lógica em que se baseia o que refiro é a seguinte: uma pessoa a deslocar-se de bicicleta faz compras mais pequenas, e mais frequentes. As viagens mensais e demoradas ao supermercado dos automobilistas convertem-se em paragens rápidas em mercados locais, a caminho de casa de quem anda a pé ou usa a bicicleta.
Quando comecei a deslocar-me de bicicleta há mais de seis anos, era ainda estudante e fazia amiúde o trajeto até ao centro histórico. Foi nestas viagens que comecei a experienciar a cidade de uma maneira diferente; via mais caras, montras e pessoas, e muito menos semáforos; conheci pequenos negócios, onde ainda hoje compro legumes frescos, e deixei de perder tempo parado no trânsito. O comércio local da Rua D. Pedro V ganhou um cliente devido às minhas deslocações diárias, aliando a conveniência e rapidez de fazer uma paragem de bicicleta para fazer compras com a necessidade em me deslocar.
Incentivar o uso da bicicleta, e melhorar as suas infraestruturas, apoiará invariavelmente o comércio local. Por outro lado, manter a alienação automóvel sem favorecer a deslocação a pé, de bicicleta, ou do transporte público, perpetua a dependências das grandes superfícies comerciais e pode, em consequência, ser a sentença final para os negócios bracarenses mais pequenos.
Esses poucos lugares, muitas vezes, nem são usados pelos clientes. São usados pelos funcionários das lojas, que logo de manhã os ocupam todos, especialmente em locais onde o estacionamento é grátis.
É comum ter os proprietário s das lojas a queixar-se de falta de estacionamento, quando têm o carro estacionado todo o dia em frente à montra.