Sou Professora de Educação Física, atleta, antiga atleta de alta competição de atletismo, mãe de 3 filhos pequenos com 2, 6 e 9 anos, e utilizadora diária da bicicleta.
Desde os tempos de adolescente que uso a bicicleta, e neste momento faço questão de a usar como modo principal de transporte por todas as boas sensações que me dá: liberdade, independência e autonomia! E, em parte, o “estar em forma”!
No entanto, nem sempre me sinto confortável com o seu uso, aliás acho-me uma “extraterrestre”: admirada, mas ao mesmo tempo olhada com desconfiança.
Em Braga são poucas as pessoas que conheço que usam a bicicleta como modo de transporte principal e, dentro deste grupo, as mulheres são em número ainda mais reduzido.
Quem me conhece e me vê com o atrelado ou acompanhada com os filhos de bicicleta afirma logo que admira a minha coragem, que faço muito bem e que sou um excelente exemplo mas…
MAS…as mesmas pessoas questionam-me: “como é que consegues andar com este trânsito”, “como aguentas uma subida?”, “não tens medo que os teus filhos andem de bicicleta na rua?”, “e então quando chove?”, “é um perigo”. Sinto os olhares e os comentários de reprovação ainda maiores.
Obviamente que não me sinto totalmente confortável e segura a andar de bicicleta em Braga, por todos os constrangimentos que a cidade apresenta, e principalmente pela falta de civismo dos automobilistas. Quando estou acompanhado pelos meus filhos, estes sentimentos de desconforto e insegurança são ainda maiores.
Contudo, como mãe, os meus receios são outros. Receio que os meus filhos queiram ficar “presos” ou “fechados” em casa, pois só se conseguem deslocar se os pais os levarem a qualquer sítio. Que recusem a prática de uma atividade física por preguiça e se privem do convívio com os amigos. Que não queiram movimentar-se pela cidade, porque não sabem, não a conhecem e têm medo de se movimentarem sozinhos.
Assim sendo, como mãe e professora, reforço o que afirmei no início deste texto: considero importante transmitir aos meus filhos e aos meus alunos, através do meu exemplo prático (andar de bicicleta) o que é ser livre, independente e autónomo, e, já agora, fisicamente ativo e saudável!
Para mim a sensação de liberdade não é apenas sentir o vento na cara. É não ter que ficar nas filas de trânsito, é poder escolher o melhor itinerário para chegar ao destino, é parar quando e onde se quer, e é poder cumprimentar e falar com alguém que vai pelo caminho, sem ter muitos problemas com os locais de estacionamento.
Para os filhos é, e será, o poder sair de casa para ir a todo o lado sem depender de alguém. É decidir ir ter com os amigos autonomamente.
Sei o quão difícil é mudar mentalidades, pois falta mais gente a andar de bicicleta para se poder reivindicar mais e melhores condições, e para que os automobilistas se habituem a respeitar quem utiliza a bicicleta, por isso proponho-vos: desafiem-se e experimentem sentir o “andar de bicicleta” em Braga!