A bicicleta é o modo de transporte mais eficiente para as deslocações curtas, até cerca de 5 km. Optar pela bicicleta permite-nos chegar ao nosso destino mais cedo, numa deslocação porta-a-porta, sem perder tempo a procurar estacionamento.
Todos os dias, no Concelho de Braga, realizam-se cerca de 333 mil viagens. Destas, mais de 262 mil (ou seja, quase 80%) são viagens efetuadas apenas dentro do próprio concelho. Estas viagens podem ser feitas em diversos modos de transporte (a pé, de bicicleta, de transporte público, de mota, de carro). Curiosamente, aquilo que nos mostram os estudos sobre Braga é que as distâncias percorridas de carro, nestas deslocações internas ao concelho, são em média de 3 km. Podemos concluir que em Braga se anda muito de carro, mas sobretudo em deslocações curtas, que poderiam muitas vezes ser realizadas com recurso a outros modos de transporte mais eficientes. O desenho da rede viária leva a que as pessoas estejam acomodadas ao carro.
Se vivemos num concelho com mais de 180 mil habitantes e uma área de 94 km2, já a cidade de Braga tem uma área bem menor e alberga uma população de quase 130 mil habitantes. Além disso, dentro do território que define a cidade de Braga, há cerca de 94 mil pessoas que habitam nos 13 km2 da sua zona plana. Uma zona urbana densa, onde muitas crianças e jovens deveriam ir a pé ou de bicicleta para a escola, mas não o fazem porque os pais, com razão, têm medo que sejam atropelados pelos carros. Há, portanto, um grave e antigo problema na rede viária da cidade, que tem como consequência mortes e feridos graves.
Perante esta realidade, e perante as excelentes condições naturais da cidade de Braga (temos sol 240 dias por ano e temos uma zona urbana densa e plana), seria simples convencer muitas mais pessoas a adotarem a bicicleta como uma alternativa ao automóvel. No entanto falta o principal: adequar a rede viária existente para dar prioridade aos modos de transporte mais eficientes e mais vantajosos para os utilizadores e para a cidade. Somente desta forma se resolverão os problemas de trânsito, de poluição e de sinistralidade que atualmente afetam a cidade.
E é agora o momento de agarrar a oportunidade de fazer as obras estruturantes que possam verdadeiramente promover a mobilidade em bicicleta, para tentarmos finalmente apanhar a pedalada europeia que já leva quase 50 anos de avanço. Mas nem tudo é mau neste atraso: podemos agora aproveitar para implementar as soluções de mobilidade já ao nível dos melhores da Europa, sem precisarmos de voltar a inventar a roda.
A cidade continua a adiar as medidas necessárias e urgentes. Porque esperamos? Haja vontade!
(Artigo originalmente publicado na edição de 02/06/2018 do Diário do Minho)