A pedalar se vai ao longe

Braga - Avenida Central em tempo de pandemia COVID-19

Em maior ou menor grau, todos nós temos estado confinados no nosso lar, levando a, pelo menos, três coisas que não estávamos habituados, (1) sentirmo-nos como um pássaro numa gaiola, (2) deixarmos o carro parado alguns dias e (3) termos tempo para parar e pensar bem na vida e no actual paradigma da mobilidade ou da falta dela. Decorrente desta nova realidade, a qual ainda se vai estender por algumas semanas, tenho lido alguns comentários sobre esta temática. Um deles dizia que “nesta altura que atravessamos quem precisa de ir trabalhar, etc o mais seguro é ir de carro. Lá se vai a teoria da mobilidade”. É um comentário que espelha bem uma ideologia de endeusamento do carro, mas que não corresponde, de todo, à verdade.

Além disso, e estando o país em estado de emergência, não existe qualquer teoria da mobilidade, mas sim um estado de excepção que condiciona a mobilidade. Populismos à parte, vamos aos factos. A mobilidade é uma equação complexa, com várias variáveis. A dita teoria da mobilidade é aplicável individualmente e à sociedade no seu todo de forma diferenciada e dinâmica. Neste momento os transportes públicos não são opção para alguns dos que os utilizam, dado o compreensível receio de tantos de nós. Neste contexto, e para quem tem de se deslocar para o trabalho, compras ou farmácia, há quem veja o carro como a forma mais segura de se movimentar. Importa agora focar algo que eu considero fundamental, ou seja considerar que, também no cenário actual, a bicicleta é uma opção segura para as deslocações de muitos de nós. Obviamente que deslocações estritamente necessárias e cumprindo as mais elementares regras. Quem iria imaginar que a bicicleta pode ser afinal a forma mais segura de nos deslocarmos nas curtas e médias distâncias?

Mas para que isso aconteça, e aproveitando esta fase de reduzido trânsito automóvel, as entidades públicas podem e devem testar soluções que podem ser o futuro em Braga, trilhando caminho para uma mobilidade menos dependente do automóvel e mais amiga dos transportes públicos e dos modos suaves. Temos agora uma janela de oportunidade única para tornar Braga uma cidade amiga de todas as formas activas de mobilidade, que não segregue nem dificulte a vida de quem, no seu dia-a-dia, e por uma ou várias vezes, prefere deixar o carro em casa e utilizar a bicicleta, os transportes públicos, ou simplesmente andar a pé. Isto faz-se criando infra-estruturas e criando segurança e conforto para utilizadores e potenciais utilizadores.

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