A Bicicleta e a Liberdade

A semana que vai do 25 de abril até ao dia 1 de maio assinala a conquista da Liberdade e de diversos direitos sociais, que se iniciou naquela madrugada de abril de 1974. Enquanto pensava num tema para esta crónica, achei que seria interessante refletir um pouco sobre a bicicleta enquanto símbolo de Liberdade. Lembrei-me de algo que o meu pai me chamou a atenção, um panfleto comemorativo do centenário da Comuna de Paris, publicado em 1971 em França e que ele próprio tinha traduzido e editado em Portugal naquele ano, lá, entre diversas propostas de grande fervor revolucionário, reivindicava-se: “pôr à disposição dos habitantes de Paris um milhão de bicicletas cuja utilização é livre, mas não poderão sair da zona parisiense e seus arredores”.

A ideia da bicicleta como símbolo de liberdade e desenvolvimento tem talvez o seu expoente máximo no filme “Ladrões de Bicicletas”, de Vittorio De Sica. O filme, de 1948, retrata a situação de desemprego de muitos italianos no pós-2ª Guerra Mundial, na figura de um personagem que consegue um emprego como colador de cartazes, mas para o qual precisava de uma bicicleta. Para a comprar, penhorou a sua casa e os seus objetos, e o filme desenvolve-se a partir do momento em que ela é roubada, sendo procurada por toda a Roma.

Cartaz do filme

Também, os movimentos sufragistas nos Estados Unidos e em Inglaterra elegeram a bicicleta como símbolo da emancipação da mulher. As palavras de Susan B Anthony, uma das lideres sufragistas americanas em 1896, são disso mesmo elucidativas: “Penso que a bicicleta fez mais pela emancipação da mulher que outro qualquer objeto no mundo. Regozijo-me sempre que vejo uma mulher de bicicleta”. De facto, a bicicleta é uma excelente metáfora para muitos sonhos que acompanham a nossa sociedade contemporânea: o movimento de uma bicicleta depende apenas do esforço que cada individuo põe nela, partindo sempre do mesmo ponto de partida, efetuando um movimento que deverá ser permanente e equilibrado.

Nos dias de hoje a bicicleta deverá ser encarada como símbolo de democratização das nossas cidades, resgatando o espaço público da dependência do automóvel.


(Artigo originalmente publicado na edição de 29/04/2017 do Diário do Minho)

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